Naquela semana e na
semana seguinte eu havia me esquecido do episódio. Deixei de procurar a minha
médica e decide que era coisa de um momento. Uma chuva de verão como diria a minha
avó. Algo passageiro.
Mas como nessa vida o
que é para ser seu vai ser mesmo. Para o bem ou para o mal.
Sem me perceber parei o
meu carro enfrente a padaria, e ai me lembrei de que foi por vir naquela
padaria que encontrei aquele menino. Decide não entrar na padaria. Derrepente
toda a cena do encontro com o menino passou pela minha cabeça. Causando-me uma
quentura que há cem anos eu não sentia.
Então, dei ré no carro
e resolvi ir comprar pão e frios em outro lugar. Talvez o Extra ou outro
qualquer.
Então indo, olhei um
mercadinho. Desses mercadinhos bucólicos e que nos remete a infância, quando
ainda não havia esses grandes supermercados. Então parei o carro e entrei.
Não sabia que havia um
mercadinho desses no meu bairro. Alias fui apreendendo que nessa vida não
sabemos nada.
Então fui ao balcão do
mercadinho, e uma mulher me atendeu muitíssimo bem.
Ela fatiou o presunto e
o queijo e me pediu para aguardar que o pão iria sair em breve.
-Pão quentinho! Que
maravilha para uma quarta feira, sem graça e fria como aquela. Eu disse que
esperava e fui dar uma olhada pelo mercadinho ver se precisava de mais alguma
coisa.
Olhei para o requeijão
Catupiry que o meu filho adora, vi a data de validade e o preço e resolvi
comprar. Peguei dois potes, e quando me virei senti as minhas pernas
amolecerem.
Aquele menino estava me
olhando. Parado ao meu lado com o mesmo olhar dominador, esfomeado.
Eu segurei firmes os
potes de Catupiry e fui flechado pelo seu sorriso.
- Acabou de chegar um
lote de Catupiry. Você quer mais?
Eu fiquei muda.
Dominada por ele. Meu Deus isso nunca havia me acontecido antes.
Apenas lhe sorri. E vi
que ele vestia o uniforme do mercadinho.
- Você trabalha aqui? –
Tola sem chão e força, eu perguntei.
- Sou repositor! Mas
estou estudando administração...
- Certo! – Eu disse
apenas, não tendo palavras.
Ele manteve o seu
sorriso. E se ofereceu para pegar uma cestinha. Se foi e rapidamente voltou com a cesta. Eu fiquei
parada olhando para o nada. Até sentir a sua mão tocar na minha e pegar os
potes de Catupiry.
- Eu te vi outro dia...
- Não sei de onde tirei força para dizer.
-Há duas semanas. Eu me
lembro.
-Se lembra?
- Não sei o que me
aconteceu, mas você mexeu comigo...
-Ah é!
Ele também havia
sentido o que senti.
Ele ficou me olhando e
eu para ele. De alguma forma, parecia que nossos olhares eram íntimos. Não
havíamos nos vistos antes, mas ao olhar um para o outro sentimos que de alguma
forma era verdade que estava acontecendo com nós, todo o sentimento novo que
nos invadia.
- Aqui não dá pra eu
falar. Mas sexta à noite eu to livre não tenho aula. E esse o número do meu
celular se quiser me liga.
Ele disse me olhou mais
um pouco, sorriu e me entregou a cesta com os potes de Catupiry. Depois foi
para o depósito do mercadinho.
E estranhamente eu não
estava mais abalada, nem surpresa, nem... Eu estava encantada.
Tomei o pão, agradeci à
senhora. E fui para casa, como que me alimentado de algo nunca experimentado
antes e que me fez um bem daqueles.